quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Mapas do poder - Mapeando as Eleições 2010 na região da Serra do Papagaio

Nessas eleições, mais do que em todas as outras anteriores, tivemos acesso a uma quantidade enorme de dados e informações, que nos chegavam através da televisão, jornais e internet, principalmente. Com tantos dados à disposição, corre-se até o risco de não ser possível chegar a uma conclusão útil ou mesmo interessante.

Na tentativa de chegar a uma conclusão dessas ou a “algo interessante”, decidi pesquisar qual havia sido o resultado das eleições para a nossa região, conhecida como região da Serra do Papagaio. Formada pelos municípios de Aiuruoca, Alagoa, Baependi, Itamonte e Pouso Alto, todos no Sul de Minas Gerais, essa região possui uma população aproximada de 45.660 habitantes e um total de 38.076 eleitores, segundo dados do TSE.

Os dados que selecionei para trabalhar foram os resultados das votações mais expressivas, por município, para três candidatos a presidente, dois candidatos a governador, três candidatos a senador e sete candidatos a deputados federais e estaduais, além do número de eleitores por município.

Para transpor os dados para o mapa, utilizei o software livre GEGraph, desenvolvido no Brasil e disponível no link http://www.sgrillo.net/googleearth/gegraph.htm. O resultado pode ser visto nas imagens abaixo:




Para baixar o arquivo, acesse o link http://www.4shared.com/file/7I3QMO9d/Eleicoes_na_regiao_da_Perra_do.html e selecione “Baixar Agora”. Para abrir o arquivo é necessário ter o Google Earth instalado. Lembre-se que no Google Earth o arquivo vai abrir automaticamente na pasta "Lugares Temporários" e é uma boa idéia salvá-lo na pasta Meus Lugares para não perder os dados.

A estrutura de pastas vai ser como na figura abaixo:


Sugiro manter as camadas "Limites" e "Sedes Administrativas" sempre habilitadas e ir fazendo o teste de habilitar as camadas contidas na pasta "Eleições 2010" uma de cada vez. Para visualizar melhor, utilize o mapa inclinado para ver em 3D, usando a tecla SHIFT e as teclas das setas para movimentar a imagem. Quem tem mouse com a barra de rolagem pode clicar na barra e rodar para inclinar e mexer na imagem.

A idéia com esse trabalho é mostrar uma nova forma de espacialização de dados, que pode ser aplicada em diferentes área e é uma boa ferramenta para apresentar estatísticas e dados numéricos em um contexto cartográfico que seja acessível.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Construindo um Sistema de Informação Geográfica COM as Comunidades da Serra do Papagaio

Será possível construir um Sistema de Informações Geográficas (SIG) de forma participativa e inteiramente desenvolvido a partir do conhecimento local dos moradores de comunidades rurais? Com o projeto Comunidades da Serra do Papagaio, esse foi o desafio que resolvemos encarar.

Mapas, desde seus primórdios, sempre foram instrumentos de conquista ou dominação. Considerados como tesouros estratégicos na expansão marítima do Império Português, revelá-los ou tê-los sem autorização do rei era passível de punição com a pena capital. Na Segunda Guerra Mundial, foram os mapas da Costa da Normandia, elaborados cuidadosamente, que forneceram aos aliados as bases para o ataque bem sucedido do Dia D. Quase sempre na História, podemos relacionar a o desenvolvimento dos mapas com o desenrolar dos conflitos em distintas partes da Terra.

E, falando nisso, os mapas também têm gerado desentendimento e conflitos no Brasil, especialmente no que se refere à demarcação de áreas protegidas ou Unidades de Conservação (UC). Note-se a demarcação da primeira UC do Brasil em 1937, o Parque Nacional de Itatiaia, até hoje com questões fundiárias mal resolvidas. Ou tomemos um exemplo bem recente, a demarcação do Parque Nacional dos Altos da Mantiqueira, cobrindo uma área de mais de 87 mil hectares e impactando diretamente (positiva ou negativamente) a vida das populações rurais de 16 municípios de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro.

Poderíamos citar ainda muitos outros exemplos de idéias desenvolvidas em gabinetes e escritórios de cidades distantes, idéias que viraram mapas e mapas que viraram decretos ou leis, mudando a vida de milhares de pessoas que, muitas vezes, não sabem nem ler um mapa, quanto mais entender os decretos e leis que chegam de cima. E é justamente com um exemplo desses que nossa história começa.

O Parque Estadual da Serra do Papagaio é outro exemplo da decisão unilateral de instituições burocráticas e distantes sendo imposta à população que vive na região da UC. A história do parque, que já foi projeto de Estação Ecológica, começa em uma madrugada de junho de 1991, durante o governo do lendário Newton Cardoso. Segundo dizem, teria sido um ato político para poder mostrar algo no Dia Nacional do Meio Ambiente.

As conseqüências de tal ato político, não fosse pelas comemorações do dia, teriam passado despercebidas na sede do governo do estado de Minas Gerais. Na realidade, onde as conseqüências da criação da UC seriam e ainda são sentidas de forma mais intensa é na região da Serra do Papagaio, que até os dias de hoje procura entender o que a decisão da criação desse parque significa de verdade para a vida das dezenas de comunidades locais.

Veja que o processo de criação e implantação de uma UC é absolutamente unilateral e, muitas vezes possui motivações políticas. Quase sempre se detecta, através de imagens de satélite ou sobrevôo, que uma determinada área precisa de ser protegida. Na seqüência, técnicos que não vivem e nem conhecem nada sobre a área em questão começam a desenhar os limites da UC. Como a distância da realidade local é muito grande, não costumam ser respeitados os usos tradicionais nessa demarcação, e o que se tem ao final desse processo técnico efetuado à distância é uma decisão que deverá ser imposta às comunidades locais, pois não possui nenhuma relação com a necessidade e as aspirações da população que vive na área. É mais ou menos como se, dando-se poder a uma comunidade local da Serra do Papagaio, esta pudesse decidir fazer mudanças em um bairro da capital mineira, alterando ruas e determinando quais pessoas podem permanecer no bairro, e isso tudo sem nunca ter visitado o local.

Mas, voltando aos mapas, o que se percebe é que,de um lado temos todo um maquinário à disposição dos técnicos que tomam as decisões nas criações dessas UCs; há um verdadeiro aparato tecnológico digno de filmes de ficção científica, com imagens de satélites de última geração, dados orbitais em tempo real, mapas de precisão, aeronaves, equipamentos de medição, entre muitas coisas e, tudo isso, pago com dinheiro público - pena que essas informações preciosas nem sempre estão disponíveis para o público em geral. De outro lado temos as populações rurais que habitam essas áreas onde as UCs são demarcadas e que acabam sendo os últimos a saber das decisões técnicas. Essas populações não têm acesso às tecnologias e recursos de que o Governo dispõe, não tem acesso aos mapas e informações e, muito menos aos processos decisórios que afetam sua vida.

No entanto, as comunidades rurais possuem algo que Harvard não pode ensinar, que milhões de dólares não podem comprar: conhecimento da terra. Basta estender uma foto aérea ou uma imagem de satélite de alta definição pra perceber o quanto os moradores das zonas rurais conhecem sobre o espaço geográfico em que estão inseridos.Cursos d'água, nascentes, florestas e árvores importantes, caminhos, terras adequadas para o plantio, etc, etc..... E ainda tem quem acha que gente da roça não entende de mapa.

Com a cartografia social e o mapeamento participativo, a idéia é usar o que há de melhor em ferramentas de cartografia e mapeamento disponíveis para empoderar as comunidades rurais, apoiando a construção de seus processos de tomadas de decisão e criando canais para que o conhecimento acumulado em séculos de convivência com a natureza se transforme em mapas e, dessa forma, possam influenciar decisões governamentais, como a demarcação de UCs e a construção de políticas públicas mais próximas da realidade.





Visualizar Comunidades da Serra do Papagaio em um mapa maior